25 de abril de 2009

Carta a uma velha

Frei Betto *

Fonte - Adital


Para Nina Garcia Alencar.

Querida amiga Nina,

Por que a trato com familiaridade? Ora, agora você me conhece intimamente: meu nome é Velhice. É bem verdade que muitas pessoas de avançada idade se sentem constrangidas, até humilhadas, ao se aproximarem de mim. Como se a Velhice fosse um mal a ser evitado.

Não se conformam com a progressiva e irrefreável degradação do organismo: a audição reduzida, as restrições alimentares, a mobilidade contida, o uso de bengala etc. Por isso, até se recusam a pronunciar meu nome. Esquecem que, à decadência do corpo, deveria corresponder a ascendência do espírito. Mas a vida ensina que não se colhe o que não se plantou.


Já não convém chamar uma pessoa de velha. Inventam-se eufemismos, como se a cobertura do bolo modificasse o sabor do recheio: terceira idade, melhor idade, dign/idade... Ora, se devemos encarar a realidade, sugiro ‘eterna idade’, já que os velhos estão mais próximos dela.

Aterrorizadas pela certeza de que um dia serão velhas, e iludidas pela busca ilusória de imortalidade, muitas pessoas, respaldadas pelos simulacros científicos que prometem juventude perene, se esforçam ao máximo para evitar o encontro comigo. Ingerem drágeas que prometem reduzir o desgaste das células, fazem cirurgias plásticas, passam horas a malhar o corpo. E ainda se dão ao ridículo de se fantasiarem de jovens, de adotar vocabulário de jovens, de frequentar festas de jovens. Como é triste ver uma velha de 70 anos bancando a mocinha de 20! Peruca na cabeça vai bem, mas na alma...

Nina, sei o quanto a sua vida valeu a pena: a família, a fé, as flores de seu acalanto, a sabedoria de permanecer numa cidade do interior e não acompanhar os filhos no rumo das metrópoles.

O que a faz longeva? O que lhe permite celebrar saudáveis 95 anos sem ter recorrido a nenhum desses artifícios? A paz de espírito. Você escolheu cultivar bens infinitos, aqueles que se guardam no coração, e não bens finitos, que envaidecem sem jamais saciar a sede de Absoluto. Você escolheu a amorosa maravilha da cotidianeidade, essas miudezas que, como miçangas, colorem a linha da felicidade: a oração, a frequência à igreja, o encontro com as amigas, o socorro aos pobres, o cuidado da casa e, no crepúsculo da vida, dar-se ao direito de espiar o mundo pelas janelas dos livros, dos jornais, da TV.

Sonho com o dia em que as mulheres descobrirem que o auge da beleza reside em encontrar a mim, a Velhice. Essa beleza emoldurada pelas rugas da intensidade de vida e pelos cabelos alvos, fundada na sabedoria de espírito, na capacidade de relativizar tantas coisas que os mais jovens encaram como absolutas. Beleza de quem já não recorre a artifícios exteriores para enfeitar a vaidade; basta o sorriso luminoso, a delicadeza dos gestos, o dom de recolher-se em silêncio ainda que, em volta, todos disputem a palavra aos gritos.

Você bem sabe, Nina, que estar comigo é experimentar algo que, cada vez mais, poucos conhecem: a serenidade. Uma pessoa se torna serena quando se dá conta de que vive num palácio de inúmeros aposentos - a vida -, mas já não sente o menor ímpeto de percorrê-los, perdeu toda curiosidade em relação a eles. Basta-lhe um aconchegante quartinho onde suas plantas recebam um pouco de sol.

Nina, acolhe o meu afetuoso abraço de feliz idade! Curta a minha companhia sem nenhuma ansiedade frente aos desígnios de Deus. Ele a colherá desta vida, como um jardineiro à sua flor, no momento oportuno. Então, sim, você descobrirá que, do outro lado, a vida é terna.

O carinho de sua companheira,

Velhice.

[Autor de "A arte de semear estrelas" (Rocco), entre outros livros].



* Escritor e assessor de movimentos sociais

24 de abril de 2009

Transmissão de cargo foi prova de maturidade política, diz Antunes

Por Josafá Ramalho
O ex-secretário de Estado de Desenvolvimento do Sul do Maranhão, Fernando Antunes disse que a transmissão de cargo na secretaria foi uma amostra de maturidade política.
Fernando Antunes deixou a secretaria na manhã de quinta-feira, 23, quando foi substituído pelo ex-vereador Ademar Freitas.
A solenidade foi cheia de manifestações de elogios e boas referências entre o secretário que saía e o secretário que chegava.
-“ Ademar é uma referência na política de Imperatriz. Tenho certeza que será um bom gestor”- disse Fernando Antunes.
O novo secretário retribuiu afirmando que conhece Fernando Antunes de “longas datas, é um empresário que fez de Imperatriz a sua casa e tem ajudado a desenvolver esta região, e na secretaria do Sul do Maranhão fez um bom trabalho”.
Depois de uma rápida solenidade, Antunes e Ademar se despediram de um grande número de pessoas que foram a Secretaria De Estado Extraordinária de Desenvolvimento do Sul do Maranhão – Seedesma , e se reuniram com assessores para entrega de documentos e bens da pasta.
- “Deixo a Seedesma com o sentimento do dever cumprido. Foi uma grande experiência”- destacou Fernando Antunes, ressaltando a importância de que as obras do governo do Estado em Imperatriz tenham continuidade.
Ademar Freitas, antecipou que em uma conversa reservada com a governadora Roseana, ouviu dela o comprometimento de que a ponte, a rodoviária e o estádio serão concluídos.

7 de abril de 2009

A Paixão de Jesus e a dos povos indígenas do sertão de Alagoas



Jorge Vieira *

Fonte - Adital
Os povos indígenas do Brasil vivem uma peregrinação de 500 anos de sofrimento, desrespeito e espoliação de suas riquezas naturais e culturais. Tiveram milhões de seus parentes massacrados e etnias exterminadas por todo tipo de violências. Mesmo nos tempos modernos, chama a atenção que esses povos sofrem com os meus ataques do período colonial!
No sertão de Alagoas vivem os povos Jeripancó, Karuazu e Katokinn no município de Pariconha; Kalankó, Água Branca e Koiupanká, em Inhapi. Há décadas lutam em defesa dos seus direitos, principalmente a demarcação da terra, educação e saúde. Mas o resultado é mínimo!!!

Destacam-se os Kalankó e Katokinn, cansados de acreditar nas promessas dos sucessivos governos, resolveram arriscar a própria vida e retomaram parte de seus territórios, entre 2008 e 2009. Mas mesmo com essa atitude extrema, os representes dos órgãos os ignoram! Estão lá abandonados à própria sorte, sofrendo a paixão de Cristo, celebrando seus rituais de penitência em seus terreiros.


Quaresma é um período de profunda reflexão, conversão e de mudança de vida. À semelhança de Jesus Cristo que se entregou totalmente ao reino de Deus, seus discípulos devem também os seus passos. Doar-se não pode limitar-se à boa intenção, mas é uma atitude radical e concreta em prol de uma Grande Causa.

No contexto atual, o mundo vivencia uma crise de ordem econômica, social e ética. O sonho pregado pelos neoliberais transformou-se em pesadelo para a humanidade. Guerras, conflitos, bolsas de valores e mercados financeiros em queda. Povos e nações morrem por uma causa sem Causa.

O lema da Campanha da Fraternidade instiga a repensar o sentido de viver imerso em tanta violência: A Paz é Fruto da Justiça. Quando se dá esmola a um pedinte, precisa-se perguntar por que o meu irmão está com fome, quando sobra muito nas mãos de poucos? Não dá para amaciar a consciência com um simples tostão.

A Paz é construída com o reconhecimento e conquista dos direitos dos trabalhadores sem terra, dos povos indígenas retornando para seus os territórios tradicionais, as mulheres andando de mãos dadas com os homens e as crianças brincando livremente em seus lares, ruas e escolas; quando os trabalhadores e trabalhadoras puderam dormir sabendo que seus empregos e o bem-estar de suas famílias estão garantidos. Finalmente, quando a juventude sair das ilusões das drogas e voltar a lutar por Utopias de justiça, de paz e de comunhão! Somente assim, a paixão de Jesus e da humanidade se transformará em Ressurreição cósmica.


* Missionário do CIMI-NE. Jornal

Crise econômica cria cenário desesperador


Estes dias, surpreendentemente, o Jornal Nacional fez ampla reportagem sobre o que está acontecendo na Califórnia, o Estado mais rico dos Estados Unidos, que, fosse país, seria o quinto mais rico do mundo. E mostrou o que chamou de cidade das tendas: um imenso acampamento de pessoas desempregadas, desalojadas de suas casas, vivendo debaixo de lonas, de barracas de praia ou de qualquer coisa que se pudesse chamar de casa. Até mostraram uma invenção dos pobres americanos, uma barraca sobre rodas, permitindo mobilidade para ‘morar’ em qualquer lugar. Só faltavam mesmo as lonas pretas para ser um típico acampamento de sem-terras brasileiros.
As pessoas foram sendo entrevistadas e falaram de seus dramas. Há os que perderam o emprego e não tem mais como sustentar a família; há os que não puderam mais pagar as prestações de suas casas e tiveram que abandoná-las; os que empenharam todas as suas economias em bancos que faliram e tiveram que largar tudo, acampando no primeiro lugar que encontraram, onde pelo menos têm vizinhos, também acampados.
Como o acampamento vinha recebendo mais ocupantes a cada dia, as imagens de televisão rodando o mundo, dias depois apareceu, em outra reportagem, o governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger dizendo que ia tomar providências. Anunciou que iria retirar as pessoas, tal como tantas vezes se viu e eventualmente ainda se vê no Brasil.
A crise é mesmo muito forte. No quarto trimestre do ano passado, houve uma retração de 6,4% da economia americana. O governo americano já injetou - assim como governos europeus e o japonês - trilhões de dólares em bancos e imobiliárias à beira da falência, em montadoras como a GM e a Ford, ameaçadas de concordata. E não se anuncia no horizonte, pelo menos no curto prazo, uma luz no fim do túnel.
Luís Nassif publicou em seu blog uma mensagem esclarecedora, com o título A CRISE AO VIVO: "Nassif, aproveito o espaço para descrever um Estados Unidos como nunca vi. Há cerca de 20 anos vou para os EUA ao menos duas vezes ao ano, mais especificamente Califórnia e New Jersey. Voltei ontem de New Jersey e fiquei aterrorizado. A crise que se comenta no Brasil aqui é muito maior do que se imagina. Para se ter uma idéia, sempre fico no hotel Hyatt, que tem cerca de 400 quartos. Apenas 15 (QUINZE) estavam ocupados. Nunca vi isso, esse hotel sempre teve muita ocupação, normalmente minha reserva tinha de ser feita com pelo menos 30 dias de antecedência para garantir a disponibilidade. Uma rápida conversa com um funcionário do hotel deu a medida: cerca de 1/3 do pessoal já foi dispensado, e se esperam mais demissões a curto prazo. Ainda segundo ele, oficialmente não se fala em fechamento, mas os funcionários estão com medo que aconteça, mesmo que temporariamente.
Para o encontro que tive, um dos representantes não apareceu (o da Califórnia). Por incrível que possa parecer, porque cortaram emergencialmente todas (TODAS) as verbas de viagem da empresa. O representante local (de New Jersey), que compareceu na reunião, me passou que, dos quase 500 funcionários, 100 já foram dispensados. Despediu-se dizendo que sempre foi um prazer se encontrar comigo e torcia para que não estivesse na próxima lista de dispensas. Um executivo francês que estava no hotel se disse impressionado, pois no vôo da França para os EUA a classe executiva tinha apenas cerca de 10 assentos ocupados, e 4 deles eram de uma família que voltava de férias.
Passando no shopping (costumo ir no Riverside Square), o cenário é desolador. Não só o shopping estava vazio em pleno sábado à tarde, mas várias lojas fecharam, várias mesmo. Conversando com as pessoas em geral, é latente a sensação de desânimo e de falta de esperança. E só se fala nisso, é deprimente.
Voltei pra o Brasil com a sensação que aqui a crise está sendo uma marolinha mesmo. Mas também fiquei com a dúvida: será que a coisa vai ficar só assim mesmo, ou ainda iremos sentir reflexos maiores desse estado de torpor que assola a economia americana. Oxalá... Viva a marolinha!" Assinado: Doug.
Pronunciamentos e análises se sucedem na reunião do G20, com a presença do presidente Lula. O relatório da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, instituto independente de assessoria do governo britânico, procura separar ‘prosperidade’ de ‘crescimento’, pedindo aos governos um sistema econômico sustentável que não se apóie em um consumo sempre crescente.
Malow Brown, principal negociador britânico para a cúpula do G20, diz: "Veremos após a crise uma recalibrada no estilo de vida, toda uma nova visão de futuro de um mundo menos conduzido pelo consumismo, talvez com o acréscimo de um mundo no qual o poder tenha algo mais bem distribuído".
Segundo Pascal Lamy, Diretor Geral da Organização Mundial do Comércio, ‘o modelo de capitalismo que conhecemos nos últimos 50 anos não se sustenta. A questão fundamental é saber se há que readaptar, arrumar ou reformar o capitalismo ou se é preciso ir além, ser mais profundo nas mudanças e ir mais fundo nos retoques."
O presidente Lula escreveu em artigo publicado no Le Monde: "É chegada a hora da política e de restabelecer o papel do Estado. Mais que uma grave grise econômica, estamos diante de uma crise de civilização. Ela exigirá novos paradigmas, novos padrões de consumo e novas formas de organização da produção. Precisamos de uma sociedade onde homens e mulheres sejam sujeitos de sua história e não vítimas da irracionalidade que imperou nos últimos anos".
Os sem-terra e os sem-teto americanos levam a refletir sobre o tipo de desenvolvimento legado pelo neoliberalismo e sobre a estrutura e valores da sociedade capitalista. Não dá mais para fugir da discussão de um novo modelo, com outros parâmetros, organização e valores. Ou como muitos de nós vêm dizendo faz tempo: está na hora da construção coletiva ‘de um outro mundo possível’.

* Assessor Especial do Presidente do Brasil