16 de novembro de 2011

Conhecida pelo ‘pavio curto’, Dilma espalha broncas pelo Planalto


Quem tem medo de Dilma Rousseff? A julgar pelos relatos do dia a dia na Esplanada dos Ministérios, a resposta é simples: todo mundo.

A Folha ouviu ministros, assessores e parlamentares sobre as famosas broncas da presidente. A conclusão é que ninguém está imune a elas – nem os “queridinhos” de Dilma, como Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e Guido Mantega (Fazenda).

A lista de fatores que provocam a ira da presidente vai do desconhecimento dos assuntos de governo a tentativas de enrolá-la ou dar palpites sobre áreas dos colegas.

Alguns ministros se abalam emocionalmente com os pitos. Duas ajudantes de ordem e uma secretária da Presidência pediram demissão.

Anderson Dorneles, assessor pessoal que é tratado como se fosse um filho e acompanha Dilma há mais de 20 anos, já ameaçou duas vezes ir embora do governo.

Alguns assessores evitam levar problemas a Dilma por temer o mau humor presidencial. “Tem gente que nem decide nem submete a ela, com medo da bronca”, resume um ministro, que, assim como os demais ouvidos pela Folha, falou em caráter reservado.

Outra senha para a gritaria é alguém tentar levar um “contrabando” para uma reunião. “Ela conhece o governo, sabe os caminhos da burocracia. Não dá para enrolá-la”, sentencia outro auxiliar.

Dilma x Lula

Aqueles que permaneceram da gestão Lula dizem que o ex-presidente também dava broncas, mas elas eram “genéricas” e “no plural”.

Com Dilma a coisa é pessoal, olho no olho, em público e quase sempre aos gritos.

Os alvos preferenciais são os ministros mais próximos: os palacianos e os que participam da coordenação de governo. Paradoxalmente, aqueles de quem ela não gosta escapam quase ilesos, porque raramente são recebidos.

Quando o tempo fecha, a presidente cruza os braços, põe as mãos sob as axilas, inclina a cabeça de lado e mira alguém. “O cara sabe na hora que vai para o pelourinho”, descreve uma testemunha.

O bordão “meu querido” é outro sinal de encrenca.

Um traço de estilo que tensiona o ambiente é que Dilma não faz confraternizações. Aboliu a Festa Junina na Granja do Torto e as rodadas de prosa regadas a uísque que Lula promovia nas viagens.

“Se, numa viagem, ela convoca um café, é sempre para trabalhar”, descreve quem já integrou algumas comitivas.

Apesar do temor, os assessores veem o estilo ríspido como demonstração de que ela está “investida da função” e “leva o cargo a sério”.

“Chega a ser engraçado, porque, com a bronca, vem sempre uma ironia. Mas só quando não é com você”, resume uma de suas vítimas.

Fonte: Folha
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