4 de junho de 2008

Sociedade civil cobra representação na Conferência da FAO

Fonte - Adital
Começou hoje (3) a Conferência da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sobre Segurança Alimentar, Mudanças Climáticas e Bioenergia, que está sendo realizada em Roma, Itália. O evento conta com a participação de chefes de Estado e de Governo de mais de 30 países.
Agricultores da Via Campesina de todo o mundo estão acompanhando pelo lado de fora o encontro. Em comunicado, a entidade reclamou da não possibilidade de presença da sociedade civil no evento. Os agricultores e outros representantes de movimentos sociais vão realizar uma cerimônia simbólica diante do templo romano de Ceres, a deusa dos cereais e da agricultura.

O movimento camponês recorda aos governos e às instituições internacionais que a atual crise de alimentos e as mudanças climáticas não são resultado de nenhum desastre natural inesperado. "São fruto de décadas de ‘liberalização’ do comércio e da integração vertical da produção, do processamento e da distribuição pelas grandes empresas agrícolas. Portanto, os governos devem assumir toda a responsabilidade e tomar medidas radicais para resolvê-la", afirmam em nota.

A Via Campesina acredita que a mercantilização dos alimentos, sujeitos à ambição de lucros e a jogos financeiros, é uma das causas da alta dos preços dos alimentos básicos. "Agora a produção de alimentos compete com a de agrocombustíveis, o que piora a crise. Os governos estão desmantelando as políticas agrárias que apoiavam a produção de alimentos e agora apóiam as transnacionais que produzem sementes, pesticidas, fertilizantes e alimentos, para que sigam fortalecendo seu controle sobre a cadeia alimentícia".

Os pequenos produtores de alimentos também criticam a "Nova Revolução Verde" e as sementes geneticamente modificadas. Eles defendem uma produção sustentável de alimentos em pequena escala e nos mercados locais: "Isso permitirá que os solos se regenerem, assim como economizará combustível e reduzirá o aquecimento global. Além disso, dará emprego a milhões de agricultores, pescadores, pequenos criadores de gado e todo os que estão alimentando a população do mundo".

Em discurso, o presidente Lula reafirmou que a alta dos preços dos alimentos não é causa da política de apoio aos biocombustíveis que o País vem implementando. Segundo o presidente, essa crise "resulta de uma combinação de fatores: a alta do petróleo, que afeta os custos dos fertilizantes e dos fretes; as mudanças cambiais e a especulação nos mercados financeiros; as quedas nos estoques mundiais; o aumento do consumo de alimentos em países em desenvolvimento, como China, Índia, Brasil e tantos outros; e, sobretudo, a manutenção das absurdas políticas protecionistas na agricultura dos países ricos".

O presidente critica a política de subsídios agrícolas e dá o exemplo do que aconteceu com o Haiti. O país, que chegou a ser um dos maiores produtores de arroz da região caribenha, sofreu com políticas impostas de fora que privilegiavam o aspecto monetário. Os subsídios praticados em outros países também provocaram o abandono do plantio de arroz. O presidente também censura a produção de biocombustíveis a partir de alimentos, como o milho. "Não acredito que alguém vá querer encher o tanque do seu carro com combustível, se para isso tiver de ficar de estômago vazio", ironiza.

As matérias sobre Segurança Alimentar são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil.
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